Temas da Longevidade
Música e o Cérebro
Joana tocava no piano da sua sala o Noturno n.º 2 de Chopin. Que prazer a invadia quando sentia as vibrações do piano no seu corpo, os acordes nos ouvidos e a insustentável força dos dedos nas teclas. Se quisermos definir plenitude era aquilo que Joana sentia quando se punha ao piano. Mais nada do que fizesse lhe retribuía esse sentimento. Joana tinha a doença de Alzheimer. Já lhe fora diagnosticada há 6 anos. Vivia só, com o apoio de duas empregadas, não, não eram cuidadoras, eram mesmo empregadas. Embirrava com o termo cuidador, achava que isso era para os cavalos. Fora pianista e concertista até se casar. Deixou a carreira por desejo do marido, coisas desse tempo! Tocava em casa e para ela. Felizmente nunca deixou de tocar. Era o que lhe valia agora, porque a música não se esquece. Não sabia se tocava melhor ou pior, tocava e parecia que agora, mais que nunca, a música a preenchia. Só não tocava dia e noite porque se cansava.
Sabia que a audição é o mais valioso dos sentidos para manter o desempenho cognitivo? Sabia que pode esquecer-se e ter dificuldade em comunicar, mas continua a saber tocar um instrumento?
A música vive connosco desde a nossa concepção. É a batida do coração da mãe, os ritmos da respiração, os sons da linguagem, que nos acompanham até ao fim da vida, mesmo quando se tem o infortúnio de perder a audição, porque o corpo também sente o som.
A música tem sido alvo de crescente interesse por parte das neurociências, particularmente no que diz respeito à ativação de diferentes regiões cerebrais. A música não é só uma percepção é mais do que isso, porque estimula o corpo. Experimente ouvir e dançar, experimente tocar, e como a nossa pianista sentir as vibrações no corpo. Dançar e mover-se ao ritmo da música são capacidades universais que constituem um componente crucial da experiência musical humana. Evidências crescentes sugerem que o ritmo e a percepção das batidas dependem da integração de informações entre modalidades sensoriais múltiplas, diferentes processos cognitivos e uma ampla rede de regiões e substratos cerebrais. A música não é só representação mental, a música é vivência corporal, partilha emocional e pensamento.
Nas nossas propostas terapêuticas a música esteve sempre presente, não através de uma escuta passiva, mas através da criação e execução musical, bem como da expressão pela música. Não temos de nos limitar nos estilos, géneros ou instrumentos musicais.
Sabemos também da capital importância da audição nos processos cognitivos. É de todos os nossos sentidos o que se revela mais importante na manutenção das funções cognitivas.
Desta vez não deixo uma pergunta, mas antes uma sugestão “Só lhe faz bem ser musical, cantar ou dançar, ou tocar um instrumento.”