Temas da Longevidade
Acompanhamento Terapêutico
O conceito de Acompanhamento Terapêutico é uma forma de abordagem clínica médica, conceptualizada por vários autores médicos, que reside num trabalho junto do doente que não se limita só às consultas. Como o nome indica implica acompanhar as circunstâncias de saúde e de vida dessa pessoa, num percurso onde o médico consegue ter um melhor conhecimento do doente, das suas doenças e singularidades pessoais, bem como criar uma relação de confiança mútua. Permite ao médico contextualizar as queixas e doenças daquela pessoa, ter um olhar e compreensão holística do doente, conhecendo-o com mais profundidade. Permite ao doente estabelecer uma relação de confiança e securizante com o médico, sabendo que pode contar com ele.
Se em muitas especialidades médicas não faz sentido esta abordagem, porque se trata de resolução de problemas pontuais, noutras é absolutamente mandatória, sob pena de se passar ao lado da compreensão dos problemas e portanto da sua resolução. Na longevidade, esta perspectiva é muito importante porque quando avançamos na idade os nossos mecanismos de defesa estão mais vulneráveis e tudo conta. Por outras palavras, um pequeno acontecimento pode ter repercussões e consequências que noutras circunstâncias não teria, o que origina formas diferentes de entender um sintoma ou sinal. Tomemos o exemplo das doenças degenerativas do Sistema Nervoso Central, como a doença de Alzheimer, e percebamos que esta situação em que temos compromisso das funções cognitivas tem tratamento, mas que para o mesmo temos de destrinçar entre a possível patologia psiquiátrica acompanhante, outras comorbilidades e os sinais e sintomas da própria doença de Alzheimer. Uma doença degenerativa, quando se instala numa pessoa não se apresenta só pela patologia degenerativa em si, mas acontece numa pessoa que tem um passado, uma personalidade prévia, outras doenças pré-existentes. Se um doente tem uma doença depressiva, o que muito frequentemente antecede ou cursa concomitantemente com a doença de Alzheimer, tem que ser avaliado e tratado dessa patologia, para podermos depois compreender o seu compromisso de memória ou outro prejuízo cognitivo. A forma diferente como o doente reage à terapêutica, a forma como adere e lhe podem ser úteis diferentes tratamentos, a elaboração do plano terapêutico, tudo só é perceptível se acompanharmos e conhecermos o doente de perto. Faz toda a diferença face a um seguimento pontual em consulta. Uma pessoa não é uma doença, uma doença acontece numa pessoa com história.
Conseguimos tratar uma doença sem conhecermos de perto a pessoa?