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O Trabalho

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Temas da Longevidade

O Trabalho


 

“Gosto de trabalhar! Trabalhar dá-me vida, o que era de mim sem trabalhar” - exclamou Maria Antónia para o filho, durante uma conversa em que Manuel, o filho, observou à mãe que não entendia porque é que ela continuava a querer trabalhar. Tinha a reforma dela, mais parte da pensão do marido, não precisava, chegava-lhe. Mas, Toninha, como era conhecida, sabia que sim, que precisava do trabalho, dava-lhe gosto fazer o que sabia fazer bem feito. Não era só técnica, era arte! Havia gosto no detalhe, na solução para o problema, brio no resultado final. Cada gesto era cuidado como numa representação teatral, mais do que no teatro, porque ali era a vida, não a representação da mesma. O resultado final não era para o espectador, era para si própria, vivido na sua intimidade, num silêncio que não revelava a satisfação. Se a gabavam ficava contente, mas não precisava de elogios, porque sabia que fazia bem feito. Fazia com entrega, entrega sentida que vinha do corpo, esquecia-se de si e invadia-a um prazer que mais ninguém podia alguma vez perceber, mesmo quando ficava cansada. Estudos realizados muito recentemente pelo University College London, coordenados por Mika Kivimäki, constataram que o trabalho estimulante do ponto de vista cognitivo, ou seja um trabalho rápido e árduo, que obriga a uma aprendizagem constante, ao uso de habilidade, à procura de novas soluções, sendo necessariamente criativo, a que chamamos trabalho dinâmico, vai ter um efeito protector sobre a Doença de Alzheimer e as restantes doenças degenerativas vulgarmente denominadas de demências. Fazemos então o elogio e a apologia do trabalho extremo para nos protegermos da “demência”? Não, nada disso, propomos sim que entenda a importância de se dedicar a um trabalho, a um projeto, a uma causa de forma empenhada. Empenhada não quer dizer dedicação extrema, quer dizer que gosta do que faz, que aceita desafios, que tem gosto em ser criativo e em resolver problemas. É um desempenho contrário à ideia de trabalho automático, como o que faz Charlie Chaplin a apertar porcas no filme “Tempos Modernos”.
O trabalho faz parte da vida, pelo que poderemos dizer não pare, continue a viver com intensidade e com gosto. Pode até aprender novas artes.

Durante toda a vida devemos lutar para conquistar um trabalho que nos dê prazer e conseguir ter prazer no que fazemos. A Longevidade permite conquistar a liberdade de podermos fazer o que queremos, mas devemos fazê-lo com gosto, empenho e criatividade. Abandonar-se à letargia oca e ao sedentarismo é meio caminho andado para a doença, como a Doença de Alzheimer e doenças relacionadas.

Deixo-vos esta pergunta “Será o ócio e a letargia a melhor forma de viver a Longevidade?”