Temas da Longevidade
Capaz ou incapaz, quem dita?
Quantas vezes consideramos que têm de nós uma ideia que não corresponde ao que achamos de nós. Quantas vezes nos sentimos incompreendidos e desvalorizados pelos outros, sem que consigamos dizer que estamos ali, que temos vontade própria e que conseguimos decidir sobre nós. Mas, também, quantas vezes queremos acreditar para nós próprios que somos capazes e não queremos aceitar os nossos limites. E se já não conseguimos um desempenho porque é que não o conseguimos? Temos possibilidade de o reconquistar.
O mais frequente é aceitarmos a ideia geral de que com o envelhecimento perdemos capacidades. Essa ideia resulta da forma errada como olhamos para a longevidade como um processo de declínio e não de mudança. Regemo-nos por padrões de uma sociedade consumista onde tudo é medido em função de produtividade com valor económico imediato. Dos cinquenta anos em diante já não interessamos no mercado de trabalho o que representa um desperdício de potencial humano assustador. Assustador porque acaba por nos contaminar na forma como olhamos a longevidade e nos confrontamos com a nossa possibilidade de desempenho e contribuição social. Construímos uma percepção deturpada da nossa incapacidade e desde aí olhamo-nos como alguém sem préstimo e daí em diante será cada vez pior. Ora as coisas não são assim, não nos podemos olhar como mercadoria com prazo de validade, mas antes como seres humanos com um potencial dinâmico de mudança, onde se perdem umas capacidades, mas se conquistam outras. A longevidade é um processo de vida onde nos recriamos e não temos, com a quantidade de anos que vivemos, de ter só um desempenho profissional. A recuperação do potencial humano chama-se, desde os anos 50 do século passado, Ecologia Social. Será tema de futuras conversas. O que nos interessa agora é a forma como nos olhamos e permitimos que os outros nos julguem incapazes. Enfiarmos esse barrete é meio caminho andado para a nossa incapacidade, porque desistimos de manter o nosso desempenho. Assumimos uma atitude passiva e permitimos que os outros tomem as rédeas da nossa vida, tanto mais que frequentemente o fazem em nome do cuidado e amor por nós. E até o podem fazer genuinamente, porque eles próprios estão imbuídos deste preconceito e não estão despertos para os potenciais que existem nos outros, nos de mais idade. Permitam-se despir desta forma de pensar em que não nos descobrimos a nós, nem descobrimos as capacidades dos outros. Este processo deturpado de desperdiçar longevidade é em si próprio um processo depressivo que não nos traz vida, mas traz doença.
Acreditarmos em nós, conhecermo-nos a nós próprios até na percepção do que somos capazes, construirmos projetos pessoais ao longo de toda a nossa vida, é percebermos que temos vida com futuro, que temos um desempenho social e que temos obrigação de ter uma atitude ativa e lutar pela nossa autonomia. Mas, isso também implica ter consciência dos nossos limites, aceitar as dificuldades, conseguir contorná-las e aceitar ajuda dos outros quando é necessário.
“Afinal de que sou verdadeiramente capaz?”