Imprimir

Solidão

App

 

Temas da Longevidade

Solidão


A solidão surge como um mal maior das sociedades contemporâneas e viu-se como tema incontornável das consequências do confinamento resultante da pandemia por COVID-19. Mas, quando falamos de solidão de que é que estamos a falar. Estar só é sinónimo de solidão? Estar só não é um estado de espírito, nem um sentimento, é só a constatação de que a pessoa não está acompanhada. A solidão é uma vivência sentida, que tanto pode ser desagradável, levando a crises de ansiedade que podem ser insuportáveis, como um estado desejável, em que a pessoa se centra no seu mundo interno, conversa com ela própria, numa intimidade pessoal que lhe é muito gratificante. A solidão também é a incapacidade de estar com os outros, de os ouvir, de os sentir no que têm de mais profundo, de lhes falar ao coração. Mas, acontece quem precise de ter pessoas à sua volta, não para estar com elas, mas só para não se sentir só porque não consegue estar consigo. Saber estar sozinho aprende-se em criança e ao longo da vida, é a capacidade de a criança se sentir segura apesar da separação da mãe e das figuras parentais. Mas, há crianças que se fizeram adultos sem nunca conseguirem aceitar esta separação, precisam de sentir alguém por perto, é-lhes insuportável estarem com eles, porque nunca criaram o seu mundo interno e a sua segurança na autonomia que permite a cada um estar consigo próprio.
Há uma forma de solidão muito dolorosa que é o abandono. É tão angustiante e deprimente que pode levar a pessoa a desejar não ser Ser, a não existir. Nestes casos ou essa pessoa conseguiu criar suficiente amor por si ou não suporta viver. O abandono é o desejo de não existência de uma pessoa por parte de outra que lhe é significativa. Assim, percebemos o quanto precisamos de nós e dos outros.
Num Mundo de gente Só, como conseguimos estar com os outros, quando se perdeu a capacidade de chegar ao outro, de dar e receber de verdade, e não na aparência de uma vida social preenchida. A vida centrada no mundo virtual digital das plataformas cria a ilusão de vida partilhada, mas só mascara a solidão.
A ideia de solidão é complexa e ainda mais do que isto, mas no confinamento não falamos de solidão, falamos de isolamento e abandono. Quando nos referimos a um preso não dizemos que está sozinho, dizemos antes que está isolado. O isolamento é muito mais que estar só, é estar privado, privado do contacto com os outros, mas também privado do Mundo, dos sentidos, até da capacidade de pensar, como se a falta de estímulos nos paralisasse o raciocínio e o sentir. É um vazio! Mas, a este vazio juntou-se o medo, que teve oportunidade de se enraizar, porque nada o detinha.
Viveu-se isolamento, mas também abandono. O abandono destrói o que queremos acreditar que existe, mesmo que não exista. Isolamento e abandono matam a esperança, são o desespero. A esperança não é uma capacidade, é um sentir, é a expectativa de que pode acontecer o bem que desejamos. E o desespero pode instalar-se contra a nossa vontade.
O Natal é uma ocasião onde afloram todos estes sentimentos, porque é um tempo de partilha com a família e os amigos, mas em que as carências se percepcionam e acentuam. Combatemos estes sentimentos com a festa, festa de celebração da vida, do nascimento de Jesus, de troca, da família e de esperança.

No Natal celebramos o nascimento que se contrapõe à morte. São os dois momentos em que estamos realmente sós, somos a unidade.